domingo, 11 de julho de 2010

C²: Cinema e Ciência


foto: mariana de matos

Em decorrência do debate do livro do nosso querido José Saramago, "Caim", pelo questionamento de deus que nos foi trazido, viemos a nos deparar este mês com o filme "Quem somos nós?"(2004, EUA).

Esta obra em formato de semi-documentário questiona não quem somos, mas sim o que sabemos, a condizer muito mais com seu título original: "What the b**** we know?". Assim, põe a protagonista Amanda (Marlee Matlin) em uma posição de confronto com a sua forma de acesso ao conhecimento, ao "real", elementos cujo questionamento não cessou durante o decorrer do filme e de nosso debate. Afinal, o que parece sólido, objetivo, perpassa tal qual nossos pensamentos e sonhos por nosso cérebro e, portanto, tem sua constituição alterada por uma sensibilidade subjetiva.

Este argumento é demonstrado na película regida pelo trio William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente, através do exemplo dos aborígenes americanos. Conta a lenda que, quando da chegada dos povos europeus no continente americano, os habitantes locais não conseguiam enxergar as embarcações que traziam os estrangeiros. Isto se deve ao fato de que os barcos da época eram tão diferentes de tudo anteriormente visto por aquela população que eles não conseguiam formar mentalmente aquelas imagens e dizê-las.

Com o passar do tempo, no entanto, o xamã de um daqueles povos começou a notar ondulações não comuns nas águas e passou a mirar atentamente o horizonte na tentativa de descobrir a causa daquele fenômeno. Assim, após alguns dias, conseguiu finalmente enxergar os barcos. A partir daí, começou a dizer aos seus e suas iguais sobre estes aparelhos. Depois de algum tempo, todos e todas puderam ver o que somente o xamã inicialmente pudera.

Ao debater esta lenda, chegamos a conclusão de que seria mais certo dizer que os aborígenes chegaram a ver as embarcações, mas que, em virtude de suas formas de expressar o mundo, somente conseguiram dizê-las após decorrido algum tempo. As suas vidas, profundamente ligadas à natureza, não permitiam a expressão de obras tão "sofisticadamente" produzidas por seres humanos.

Percorremos até aqui o caminho que terminou por esgotar nossas reflexões neste dia de Ciência e Arte, mas que nos lançou ao infinito ao questionar qual a validade do que vemos e qual é nosso papel enquanto estudantes e pesquisadores ao intervir na
realidade... Qual é a dimensão do nosso poder de modificá-la e o que fazer com isto?

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